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Aprender com quem sabe*

Posted by Brenda Gomes on 12.10.12
Um email tímido, pedindo permissão para acompanhar a rotina dos profissionais que trabalham no jornal Correio*, foi a iniciativa para a ida à redação. Um "Claro. Pode vir." dado pelo diretor de redação foi o passaporte para os três dias de visita orientada pelo local.

O pedido tinha motivos: entender como funciona uma redação de jornal impresso, observar o comportamento dos editores e aprender a me comportar como editora-chefe. Esses motivos trazem um outro: atender às expectativas da professora ao me nomear editora-chefe do jornal laboratório da faculdade.

PRIMEIRO DIA A caminho da Rede Bahia, pensamentos positivos e lembranças do meu futuro me davam força para chegar ao destino, mas estes estavam em conflito com o nervosismo e a ansiedade.
"Che-guei. E ago-gora?" A expressão gaguejada escapuliu como um pum de surpresa. À vista, uma porta escura pedindo para ser empurrada. Empurrei-a e identifiquei-me. Fui guiada a uma outra recepção e conduzida à redação.

- Bom dia, vim falar com o srº Sérgio Costa.
- Ele ainda não chegou. Pode esperar ali.

"UFA, que alívio! Pelo menos dá tempo para eu me tranquilizar", pensei. No entanto, não demorou muito para o diretor chegar. Na sala da direção, fui apresentada à diretora de produção, Linda Bezerra. Foi ela quem me instruiu, na manhã do dia nove.

A aprendizagem começou na reunião de pauta. À mesa, estavam os editores com suas pautas, Linda, Sérgio e eu (atenta a todos os detalhes). Diante das explicações, uma forma de conduzir o jornal da turma ia ficando mais clara. Ao término da reunião, observei Linda na criação do roteiro das pautas. Enquanto ela digitava, fazia questão de me explicar o que estava fazendo, além de orientar sobre o funcionamento do jornal com dicas valiosíssimas para a produção de um impresso.

A aprendizagem do dia, na redação, se encerrou pelo início da tarde, quando tive que ir para o estágio.

SEGUNDO DIA Uma tarde reservada para entender o processo de diagramação do jornal Correio*, marcou o segundo dia da visita. Percebi que é um trabalho de equipe. Um programa (ao qual reservo o nome por não saber se posso identificar), reúne todas as páginas do jornal, possibilitando que todos os editores e diagramdores vizualizem o material e editem conforme a demanda de produção. "Pensar na diagramação da página é o mais demorado", respondeu o editor de esporte, Eduardo, quando perguntei sobre o processo mais difícil, se a escolha da pauta, a diagramação ou edição do texto. "Não existe o mais difícil, depende do dia. Geralmente pensar na diagramação é o que demora mais", explicou Eduardo.

Foram sete horas ao lado de diagramadores como Maristela e Ari, que fizeram questão de me explicar "tim tim por tim tim" dessa etapa que dá forma ao jornal. Foi durante esse acompanhamento que aprendi uma técnica interessante para ter noção da diagramação de uma página. "Pegue um papel ofício, dobre ao meio, adicione outras folhas e dobre  de novo até obter seis marcações. O papel ficará marcado e facilitará na hora em que você for fazer o esboço da página.", explica o diagramador Ari, fazendo questão de mostrar passo a passo do ensinamento.

20h : a poucas horas do fechamento da edição, o editor de esporte me chama à sua mesa para mostrar como é feito o processo de edição de texto. No mesmo programa em que é feita a diagramação, ele corrige o título, substitui palavras por outras, elimina termos sem necessidade, tira dúvidas para não haver erros na informação, reavalia a página e, quando está tudo conforme o planejado, salva e envia para o diagramador.

A pesar da quantidade de informação que meu cérebro armazenou, não me senti cansada. Pelo contrário, estava animada. Contudo, o relógio marcando 21h me avisava que era hora de ir para casa. Estava por encerrada a visita, no dia 10.

TERCEIRO DIA: O MAIS CANSATIVO Cheguei à tarde, dessa vez mais familiarizada e à vontade para arrastar uma cadeira sem que mandassem. Encontrei Linda Bezerra muito atarefada. Para não atrapalhá-la, optei por ir atrás de um repórter que estava indo a campo, literalmente. Às 14h, saí com o repórter de esporte para acompanhar o treinamento do Bahia, no Fazendão. Na ida para o carro, aquelas lembranças do futuro, que alguns chamam de sonhos, voltaram. Era uma sensação de realização pela metade, mas o suficiente para me dar certeza de que é isso que eu quero.
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A sensação acima descrita vem de uma vontade da minha infância. Desde criança, quando ia para a casa da minha avó, minha diversão era olhar o prédio da Rede Bahia. Ainda não tinha noção do que era aquele lugar, com aquela torre enorme e aqueles carros que não me levavam para passear. Nesse tempo, ainda não pensava em ser Jornalista, aliás, nem sabia que profissão era essa. Foi brincando no pátio da TV, à época sem delimitação de terreno, que ganhei a minha primeira cicatriz, ao correr para a garagem da empresa e pisar em um prego. Pode ter sido a partir daí que me contaminei com o sangue do Jornalismo. Desse tempo, tenho vagas lembranças e todas fizeram questão de surgir enquanto eu me dirigia ao carro do jornal.
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Enquanto isso, no Fazendão...

Os jogadores do Bahia estavam em treinamento. Fui levada à sala de imprensa do time para aguardar a entrevista coletiva. Observei, atentamente, como os jornalistas se preparam nos minutos que antecedem uma entrevista. Pegam uma informação aqui, uma entrevista acolá, fazem anotações no caderno, redigem o texto, tiram dúvidas, entram em contato com a equipe que está na redação e outros gravam, até chegar o primeiro entrevistado.
"Lá vem, pega a câmera!" A correria e os burburinhos eram para avisar que o atacante do time, o Lulinha, estava chegando para conversar com a imprensa.
Seguindo a lógica do ditado "ajoelhou tem que rezar", enquanto alguns jornalistas faziam perguntas, peguei o meu caderno de anotações e escrevi o meu texto. Eu não estava ali para fazer isso porque não estava a trabalho, mas me senti na obrigação de escrever. O espírito de jornalista falou mais alto.
Lulinha comentou o desfalque do time no jogo contra a Coritiba, no dia 14. O jogador mostrou-se solidário ao dar uma camisa oficial do time ao pequeno torcedor do Bahia, Caio Ribeiro, 7, portador de uma doença grave, que veio a Salvador, com o pai,  fazer homodiálise e receber doação de rim. Uma cena que comoveu a todos que estavam presentes.

Após a entrevista com Lulinha, uma pausa para esperar o outro jorgador que iria dar entrevista. Esperamos cerca de vinte minutos, até que chegou o zagueiro Lucas Fonseca. Ele brincou ao se referir ao assistente do time, o Adalberto, como amuleto da sorte da equipe.

Fim de entrevista, hora de voltar à redação. Se aproximava das 19h e, antes de me despedir, tirei algumas dúvidas com repórteres, editores e, claro, com o editor-chefe. Procurei o Sérgio para pedir-lhe um conselho para eu conduzir bem o jornal. Categórico, ele respondeu: "bom senso".

Munida de muita informação e anestesiada diante da realização, saí da redação satisfeita e segura para dar continuidade ao meu trabalho.

















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